Editora Noa Noa
As atividades da Editora Noa Noa tiveram seu início no Rio de Janeiro em 1965, com a edição da obra 10 Poemas de Cleber Teixeira, produzida manualmente. Em 1966 com a aquisição de uma máquina impressora movida a pedal passou a editar livros compostos e impressos em tipografia com tipos móveis. Em 1977 transferiu-se para Florianópolis e com uma impressora elétrica duplicou suas possibilidades de edição. O acervo produzido pela Noa Noa de 1965 a 2006 soma 66 livros, além de cartazes e pequenos impressos (calendários, plaquetes e cartões).
texto de Flávio Vignoli
A história da Editora Noa Noa é uma espécie de memória impressa do aprendizado do poeta Cleber Teixeira, de sua educação de escritor e, em suas próprias palavras, um "mergulho profundo que diz respeito à criação literária, à manufatura do livro". Sempre o livro como um poema de amor ao livro, às artes gráficas e à tipografia. Não foi Augusto de Campos quem chamou Cleber Teixeira de poeta da edição?
O projeto editorial da Noa Noa apresenta, principalmente, livros de poesia e, na sua maior parte, traduções – muitas delas feitas pelo próprio Augusto de Campos.
Além de poeta e editor, Cleber Teixeira era também tipógrafo e impressor dos livros da Editora Noa Noa. Seu projeto gráfico é de uma simplicidade sofisticada, com composições tipográficas tradicionais: "não é por acaso que eu preservo um desenho clássico, quer dizer, eu quero a minha folha de rosto, que para muita gente é convencional, aquilo que é fruto de uma busca, é aquilo que eu quero. Estou preservando, estou tentando resgatar uma tradição, estou indo atrás daqueles editores-impressores do século XVI, XVII".
Os livros da Editora Noa Noa – nome retirado do livro de Paul Gauguin, e que significa terra perfumada – têm este encantamento do lugar do gesto da tipografia, da mão do tipógrafo. E Cleber Teixeira tinha consciência de que o processo de composição manual proporcionava esse convívio físico, quase uma relação íntima, com os poetas que estava editando: "ao construir o verso, letra por letra, palavra por palavra, eu me sentia convivendo com aqueles poetas. A presença deles me acompanhava dia e noite."
Noa Noa por Cleber Teixeira
Instalada em Florianópolis 1977, trabalha com tipos móveis e máquina tipográfica de alimentação manual. Luta-se em sua oficina pela preservação da mais nobre e bela maneira de multiplicar um texto: a tipografia. Na oficina da Noa Noa o texto é montado letra por letra. Dos bem organizados compartimentos das gavetas os tipos são levados ao componedor num trabalho exaustivo mas gratificante que tenta resgatar e divulgar o melhor da poesia universal e tornar público o novo ainda desconhecido.
O texto tipográfico procura resgatar uma prática quase desaparecida: a estreita convivência da gravura com a tipografia, prática bastante comum até as últimas décadas do século XX, quando os processos de composição e impressão se tornaram mais acessíveis e criaram a falsa ideia que a tipografia e a gravura eram processos obsoletos, arquivados. Se a tipografia e a gravura são vistos apenas como processos multiplicadores de originais é natural considerá-los arquivados. Mas sabem todos que se interessam pelas artes gráficas, os leitores, os bibliófilos e os colecionadores de arte que eles são mais do que isso.
A arte da tipografia, com tudo que precede a composição e a impressão (desenho, fundição dos tipos, projeto gráfico, etc.) tem vida longa e cabe a cada um que sabe disso resistir e ajudar a promover uma estranha convivência com os designer gráficos de hoje.